Quando, no ensino médio, tive que tomar a decisão de qual faculdade eu iria escolher, fiquei perdida. Eu não sabia o que fazer, não conseguia me imaginar em nenhuma profissão tradicional e queria fazer intercâmbio – levar meus olhos para enxergarem novos lugares, minha pele para sentir novos ares e minha boca para experimentar novos sabores.
Contudo, meus pais não permitiram. Eu tinha que aproveitar o ritmo do ensino médio, fazer o vestibular e começar a faculdade, para não perder o “conhecimento adquirido até então”.
Assim, escolhi arquitetura, embora o que eu realmente quisesse fosse moda, mas não tive apoio e, por isso, acabei escondendo essa ideia. Eu sempre amei o belo, a arte, o design... fazia todo sentido ir para a arquitetura, até não fazer mais. Se você não sabe como é um curso de arquitetura, deixe-me lhe explicar: você acha que vai fazer um monte de pesquisas interessantes, ver criações diferentes e conceituais. Mas, na verdade, vai é sentar na cadeira e executar muitos projetos que, na grande maioria, você não dá a mínima. Para fazer arquitetura, é preciso muito mais do que apenas gostar do belo. Eu não sabia. Por isso, me decepcionei e, após um ano e meio de curso, resolvi trancar a faculdade e mudar. Mas mudar para onde? Nesse ponto, meu amor pelo belo já estava apagado.
No entanto, eu também sempre amei escrever, além de adorar filosofia e sociologia. Então, durante seis meses de cursinho, sem saber o que fazer e guiada pelos meus pais e por uma psicóloga, escolhi Direito.
Já estava morando em Brasília para fazer arquitetura e continuei lá para cursar Direito. Eu me identifiquei bem mais com Direito do que com Arquitetura. Eu amo escrever, gostava da parte social da coisa. O contexto no qual estava inserida naquela época me fazia acreditar que tinha feito a escolha certa. Tive alguns tropeços durante a graduação, mas passei na OAB seis meses antes de terminar o curso e me formei, com um TCC sobre Trade Dress no mundo da moda (olha só, se não é a moda dando as caras aí de novo)
No último ano da faculdade de Direito, meu namorado, agora noivo, que morava em Miami, anunciou que iria voltar a morar na cidade dos meus pais, e meu mundo caiu: eu não queria voltar. Porém, eu não queria jogar oito anos de namoro no ralo e não queria mais ficar longe dele nem mais uma semana, então, eu também voltei.
Aqui, morando nesta cidade do interior, que foi meu lar durante a infância e a adolescência, meu mundinho foi caindo cada vez mais. Nunca me encaixei antes de sair e, ao voltar, depois de morar em Brasília e viver frequentando Miami, foi difícil. Ainda é. A primeira, lotada de cafeterias e bares onde as discussões nunca terminavam, sempre com novas ideias e novas pessoas chegando, buscando um recomeço. A segunda, eletrizante, um mundo dentro de vários outros mundos, onde tudo parecia possível. A atual? Silêncio absoluto, apesar de minha alma gritar todos os dias dentro de mim.
Na época, a melhor escolha profissional foi trabalhar na empresa de contabilidade do meu pai, no setor jurídico. T-o-d-o m-u-n-d-o concordava, o negócio já estava pronto, meu pai é conhecido por sua inteligência, portanto, era o que eu deveria fazer. Eu tentava me convencer disso todos os dias. Mas eu não era todo mundo...
Quase quatro anos se passaram desde que eu comecei a trabalhar com meu pai. Anos esses felizes, mas também de angústia. Não era o que eu queria, apesar de toda a comodidade. Mas e a coragem de admitir? Para admitir para mim mesma, demorou um ano e meio, mais ou menos. Para admitir aos meus pais (a.k.a meus chefes), três anos. Hoje, eu tomei coragem e falei que quero sair em breve. Finalmente abri a boca, depois de mais de um ano de terapia – o processo é lento, nunca se esqueçam disso– e não fiquei tão aliviada quanto imaginei que ficaria. Ainda estou triste, como se estivesse terminando com meus pais. Mas não foi caótico como eu temia. Tive apoio, mesmo sem eu saber o que quero fazer da minha vida.
É nessa questão que agora encontro meu desespero: o que eu vou fazer da minha vida?
Estou tendo essa chance pela terceira vez, mas, dessa vez, sou adulta e sou eu quem dito as regras. Me sinto cada vez mais conectada à arte, ao belo, à minha essência, apesar de ainda não enxergar de forma clara o que quero fazer. Para ser bem sincera, estou cansada de me desesperar. Por essa razão, decidi “pedir demissão”, mesmo sem ter um plano B. Talvez eu tenha que sair deste meu caminho, ficar à toa, surtar, me perder, para então encontrar um novo trajeto.
Ansiosa e confiante para o que está por vir.
Passei por uma situação parecidíssima em 2023. Essa sensação de “não sei o que quero fazer” é assustadora, mas muito necessária. É bem o que você disse: o processo é lento, é difícil criar coragem para seguir o caminho do coração. Mas a gente aprende. A gente consegue. Força aí! ♥️