Escrevi uma nota sobre isso no meu substack, mas senti que não foi o suficiente. Precisava divagar mais sobre o assunto.
Na nota iniciei contando que havia passado o final de semana na casa da minha vó, na cidade ao lado a minha. Faziam anos que não dormia na casa dela. Para ser sincera, não lembro a última vez que dormi em alguma casa dela. Essa casa em questão, é relativamente nova, tem pouco mais de dois anos.
Dormi lá com meus pais e meu noivo, fomos para a formatura do terceiro ano da minha prima.
Enquanto estava na casa senti muito a presença e a saudade de uma pessoa que morou lá por muito pouco tempo: meu avô.
Ele faleceu logo após a mudança e, por mais que eu sinta a presença dele por ai, na minha casa, na rua passeando com a minha Cacau, no jardim do meu prédio ou na casa do lago, a sua presença naquela casa era muito mais forte do que qualquer outro lugar. Era de se imaginar, apresar de eu não ter imaginado: ele a havia escolhido, suas fotos estavam lá, o nosso almoço do domingo estava lá… mas ele não.
Isso me deixou triste e senti um aperto no coração. “Estou com saudade do meu vô”, pensei em falar para o meu noivo, porém, não falei. Me deu vontade de chorar, contudo, ignorei e foquei no presente. Me lembrei que, além de tudo acontecer por um motivo, tudo que precisa acontecer, irá acontecer, então não adiantava se lamentar. “Precisamos focar em quem está aqui e criar memórias com as pessoas que continuam aqui”, pensei, por fim.
E tudo isso é verdade! A única coisa que fiz errado, talvez, foi não ter ter me recolhido, acolhido minha dor no momento, respirado fundo, sentido tudo que precisava sentir e , ai sim, deixado ir e não simplesmente ter fechado os olhos e balançado a cabeça como se minhas lembranças e pensamentos fossem se desfazer como se fossem fumaça. Mas foi o que fiz e, pior, senti pena de mim e de todo mundo que ficou.
Foi ai que, chegando em casa, abri meu tiktok e levei um tapa na cara. Um post apareceu para mim. Parecia que o celular tinha se iluminado na palma da minha mão. Eu vi um conjunto de imagens de família com a seguinte frase: Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
Surpresa. Imóvel. Pasma. Maravilhada. Assim foi como eu fiquei.
Com essa frase toda a pena que eu senti de mim e da minha família (mas principalmente de mim) desapareceram. Com ela, a fica caiu: eu tive MUITA sorte! (leia-se com uma energia de como se eu tivesse acabado de descobrir a roda) Eu tive todos os meus avós vivos por quase 26 anos da minha vida, quantas pessoas tem essa sorte? Além de eu já ter sorte em muitos outros campos nesse meu caminho cheio de privilégios, eu ainda tive todos os meus avós por esse tempo todo perto de mim - seja fisicamente ou digitalmente. Tudo bem sentir saudade, tristeza, aperto no coração, mas, pena? Pena não.
Essa é a importância de estar sempre atento aos sinais e aos pequenos detalhes, nós encontramos respostas e ensinamentos valiosos nas pequenas coisas, nas coisas mais improváveis. Quando eu iria imaginar que depois daquele final de semana o post de uma desconhecida muito sábia, iria vir parar no meu feed, me causar toda essa reflexão e aquietar meu coração?
Não sei de quem é essa frase, mas ela me fez enxergar muita coisa. Eu tive muita sorte no passado. No entanto, continuo tendo muita sorte, no presente. E sei que vou ter muita sorte no futuro. Eu e toda minha família temos saúde, estamos juntos, temos condições e somos felizes. Eu sabia disso antes, mas depois que ele se foi, eu esqueci. Que bom que eu me lembrei!
Essa frase é daquelas do tipo que faz a gente querer escrever e repetir cinquenta vezes, seja no WhatsApp, nas notas do celular, na agenda, no diário, na mente ou no corpo… logo eu, que nunca fiz nenhuma tatuagem. Ela é meu novo mantra para os momentos de saudade, da mesma forma que nos momentos de desespero e insegurança o “To live for the hope of it all” da Taylor Swift me ajuda a controlar a ansiedade e o medo.
Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
Saudade é o azar de quem teve muita sorte.
De fato, eu tive muita sorte. E continuo tendo. Não vou mais esquecer.
Com saudade, mas em paz. Te amo, vô.