Um texto de crise
Eu tenho tanto dentro de mim, que não consigo me expressar. Eu tenho vontade de chorar só de pensar. Frequentemente venho pensando que minha vida foi uma grande perca de tempo: não conheci tudo que gostaria, não tive todas as experiências que gostaria de ter, não conheci muitas pessoas e namoro desde os 16 anos. Ai eu me questiono: isso tudo é verdade ou eu apenas estou me deixando influenciar pelo imediatismo causado pelas redes sociais?
Eu tive experiências, sim: morei 7 anos em Brasília e, durante esse tempo, vivia indo para Miami encontrar meu namorado - agora, noivo -. Eu comi comidas diferentes e esquisitas. Vi lugares e paisagens diferentes. Fui em exposições e museus. Fiz um intercambio para Malibu com 16 anos. Pessoas estranhas me chamaram para sair em lugares inusitados, como um cara num shopping em Miami dentro da Zara, um outro no corredor do mercado no Brasil e, o mais doido de todos, no meu apartamento em Brasília (um admirador secreto que deixou um bilhete e até hoje não sei quem foi). Fui em shows internacionais e, em um deles gritei animada para o meu noivo, completamente transtornada de euforia , que o cantor estava fazendo o show sem camisa (Harry Styles, oi!). Andei com meus pais e noivo, com meu pai dirigindo um carro alugado no meio de Manhattan, passamos pela Quinta Avenida e Times Square (não, não sabíamos o que estávamos fazendo. Foi um erro, que virou história). Caminhei muito em uma viagem por Washington DC e conheci muita coisa legal lá. Fui com minha turma do ensino médio em Santiago e andei sozinha no centro de noite, com minhas amigas mais próximas, livres, leves e soltas. Sofri um acidente de carro (ah vai, isso tbm é história). Assisti uma final dos Lakers em NY. Fui convidada para um evento da Louis Vuitton em Brasília do mais absolutamente nada. Andei a cavalo, jet-ski, barcos, lanchas, caiaque, avião dos mais variados tamanhos. Ganhei vários sorteios (eu sou muito sortuda). Fiz meu apartamento do jeitinho que quis. Tenho uma cachorrinha, a Cacau, há 10 anos e uma gatinha, a Vienna, há 2 (Ela tem esse nome em razão da música do Billy Joel, minha música favorita, que já era favorita antes de virar modinha) e outras coisas que eu não lembro… e eu tenho 27 anos! Tem gente que nunca saiu da sua própria cidade e é muito mais velha que eu.
Isso é bem White People Problems, eu sei. Mas eu também nunca fui para a Europa e só conheço as Américas (e nem conheci todos os países, longe disso!). Não fui solteira nos meus 20 e poucos anos para sair viajando com minhas amigas e dar em cima de um guitarrista de uma banda (oi?), inclusive, eu nem tenho amigas que fariam isso. Não morei 6 meses em Londres sozinha. Nem tive experiências doidas em festas estranhas com gente esquisita (só uma, mas eu não fiquei doida, então não conta). Não fiz faculdade de história da arte e acho que sou muito limitada morando em cidade pequena do interior. Eu olho no espelho e enxergo uma mulher padrão, privilegiada e conservadora (meu maior medo. SOS). Mas é ai que está, eu sou padrão, mas não sou conservadora e, na minha cabecinha, que as vezes parece ser oca, eu entendo que para eu ser considerada qualquer coisa menos conservadora, eu teria que ter vivido loucuras… isso faz sentido? Não, não faz, que crise doida é essa? E o pior, eu nem sei como terminar esse texto! Será que ele tem fim? Será que seu eu posta-lo, meus subscritos vão me achar completamente maluca e vão sair correndo? Será que eu deveria mostrar para todo mundo minha loucura? Será que eu não deveria postar esse texto para, toda vez que eu pensar que não fiz nada da vida, e vir aqui e cair na real? Será?